Imagem: Acervo Pessoal
Se engana
quem acha que ela foge da batalha. Há mais de 15 anos no jornalismo
policial, a repórter do SBT, Melissa Munhoz, vive de perto os riscos
da profissão. De segunda a sexta, dentro do Telejornal SBT Rio, o
telespectador pode acompanhar a saga da repórter dentro das favelas
cariocas. Durante operações na comunidade, Melissa não poupa
esforços para levar a melhor informação ao telespectador. Durante a folga nas reportagens, nossa equipe conseguiu um tempinho para conversar com a repórter. Acompanhe agora a entrevista realizada pelo repórter Marcus Vinícius Oliveira.
MV CIDADE: Como é conviver, diariamente, com o perigo do jornalismo policial?
- Costumo dizer que jornalismo policial está na veia do repórter. a editoria policialesca tem que combinar com a pessoa. ou melhor, a pessoa tem que ter o feeling, a pegada, o jeito pra coisa. O repórter tem que ter o faro investigativo, tem que ser curioso, tem que observar tudo e todos a sua volta e estar ligado no que está acontecendo naquele momento porque um simples detalhe de imagem ou informação pode revelar muita coisa, diferente do que se sabe até então. De tanto fazer reportagens de crimes, brinco dizendo que virei perita. Faço um "CSI" na cena. Estudo a dinâmica do fato, levanto suposições baseadas no que vejo e geralmente acerto. (risos)
MV CIDADE: Isso afeta ou já afetou algo no seu dia a dia?
- Sim, muito! Já fiquei dois anos sem comer carne vermelha depois de ver cinco corpos na mala de um carro nas redondezas do complexo do alemão, muito antes da ocupação. O cheiro dos corpos em decomposição me enjoou a ponto de no dia seguinte, não conseguir mais comer carne.
Imagens: Acervo Pessoal
MV CIDADE: E o sono? Dá pra dormir tranquilamente?
- No meu primeiro ano seguido de tiroteios quase que diários, tinha muita dificuldade para dormir porque trabalhava de madrugada. Quando chegava em casa, por volta das 5 da manhã, não conseguia "me desligar". A adrenalina permanecia alta. Sentia dores musculares de tensão, mas não sentia sono e mesmo quando ele vinha, eu não relaxava a ponto de dormir. Por várias vezes, tive que chamar uma terapeuta pra me ajudar.
MV CIDADE: Como os moradores das comunidades recebem os jornalistas durante os confrontos?
- Uns nos recebem muito bem. Outros nem nos querem ali. Somos bem-vindos ou hostilizados. Em alguns casos somos tratados como reis, em outros, como intrusos. normalmente encontro facilidades para acessar as favelas. O segredo é ser humilde, chegar com simpatia, falar a língua deles e se a coisa não sair como o esperado, dialogar, sem se exaltar. ali, somos minoria e estamos sempre em desvantagem. Apenas em casos isolados, precisamos nos impor, mas pra isso temos que sentir o ambiente.
Imagem: Acervo Pessoal
MV CIDADE: Como a bandidagem enxerga o trabalho dos repórteres atualmente?
- Já tive experiência de ser alvo deles (com tiros na nossa direção mesmo) porque acham que nós é que levamos a polícia à comunidade, que somos "fechados" com os policiais, que somos "x9". Em outros casos, já tive incursões em que entrei, andei, subi e desci sem um tiro sequer...onde o que não faltou foi oportunidade para atirar. Acredito que na maioria das vezes eles preferem não mexer com a gente, pra evitar problemas.
MV CIDADE: Para encerrar, qual foi a matéria mais marcante na sua carreira?
- A matéria mais marcante da minha carreira foi a cobertura da tragédia na serra. Foram 15 dias seguidos indo e vindo da região serrana. Percorri todas as cidades devastadas pela força da natureza. e o que vi, jamais esquecerei. São imagens que vão ficar pra sempre na memória. Foi difícil contar essas histórias. Foi duro ver tanta desgraça, tanto sofrimento, tanta destruição. No início, nos primeiros dias, estava tão impressionada, tão chocada, que não chorava. Não conseguia chorar! Mas passei a ter pesadelos. Foram 7 dias seguidos de pesadelos! E só fui desabar ao final de uma semana, justamente quando estava em casa...a minha ficha caiu!
Apesar dos problemas, Melissa se mostrou confiante...confiante em um futuro melhor nas favelas da nossa cidade.



Ah cara, deve ser uma loucura essa parada !
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